quinta-feira, 9 de julho de 2009

PAPAI DOIDÃO É O NOVO DOM QUIXOTE

Mesmo com todo o profissionalismo demonstrado pela equipe, não podemos perder de vista o caráter quixotesco desta empreitada. Trata-se evidentemente do exército de Brancaleone mais eficiente e competente de que já se teve notícia, ao menos por estas plagas.
A propósito Papai Doidão tem muito mais a ver com Dom Quixote do que pode parecer a princípio. Se Dom Quixote queria ressuscitar a cavalaria andante, Papai Doidão age da mesma maneira em relação ao movimento hippie, que hoje em dia é considerado tão ultrapassado quanto as aventuras dos cavaleiros medievais o eram na época de Cervantes.
A pura e simples iniciativa de rodar um longa-metragem sem um tostão de dinheiro público via renúncia fiscal, como queria Zé Rodrix, revela a bem vinda insensatez criativa que move mundos e fundos e engendra maravilhas com miraculosa espontaneidade.
Por isso eu me sinto muito mais como um propiciador deste estado de consciência coletivo imprescindível para a concretização do sonho compartilhado que o cinema representa quando cumpre com êxito seu papel do que como um general do exército ou um comandante de tropa que é como boa parte dos diretores se comporta confundindo uma função técnica e uma vocação artística com o exercício de descabidas fantasias de autoridade e prepotência.
Sou anarquista e abomino toda forma de hierarquia e de opressão, seja coletiva, seja individual.
Esta é a chave para compreender a minha postura zen no set. Sou um artista, um poeta. Não um militar ou, pior ainda, um tirano.
É claro que eu sei que há quem ame os tiranos e sinta falta deles. A psicologia de massas do fascismo é um assunto fascinante e muito atual, apesar das aparências em contrário. A humanidade infantilizada pela sociedade do espetáculo fomenta fenômenos autoritários e despóticos nas instâncias mais insuspeitadas do cotidiano, nas relações familiares e profissionais. É claro que isso acaba repercutindo globalmente, no território da macro-política.

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